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‘Juros dos EUA devem ter uma ou duas quedas neste ano’, afirma Campos Neto

Roberto Campos Neto

 

Publicado às 18h48

 

Embora uma provável desaceleração da inflação global ainda dependa do comportamento dos preços dos serviços e da atividade econômica, a expectativa para os juros nos Estados Unidos varia entre uma e duas quedas ainda neste ano, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que fez a abertura do MKBR24, evento realizado pela ANBIMA e pela B3. Mas, para além da questão dos juros, Campos Neto observou que existem outros pontos de atenção na agenda global dos mercados e dos bancos centrais.

Segundo ele, discute-se hoje se haverá retirada da liquidez injetada pelos governos durante a pandemia e se esse movimento será organizado. “Há um debate, por exemplo, sobre os efeitos do custo da rolagem das dívidas dos países desenvolvidos. O fiscal está mais no foco, o que também tem implicações para o Brasil”, comentou. Campos Neto destacou que os riscos globais mais relevantes hoje estão relacionados à inflação e aos seus efeitos sobre a política monetária e as questões geopolíticas ainda não equacionadas.

Reflexos sobre o mercado de capitais

Esse cenário dos últimos anos teve também reflexos sobre o mercado de capitais brasileiro, que teve que lidar com esse ambiente monetário global e também com questões específicas, como a crise no crédito privado do início de 2023, lembrou o CEO da B3, Gilson Finkelsztain. “Tivemos excelentes notícias em algumas frentes e desafios em outras, mas ficou claro que o amadurecimento do mercado de capitais é fundamental para o país entrar em rota de crescimento”, afirmou Finkelsztain.

Na avaliação do presidente da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), Carlos André, esses eventos não impediram o crescimento do setor: ao contrário, geraram aprendizados e pavimentaram novos caminhos. “O mercado secundário, por exemplo, alcançou recorde no volume de negociações no ano passado, com aumento de 62%, se mostrando extremamente saudável”, disse.

Campos Neto também destacou o forte crescimento do mercado de capitais, mesmo com o segmento de equities enfrentando um período mais desafiador recentemente, como mostra a parada nas operações de IPO (aberturas de capital). “Mas na renda fixa o mercado está muito forte, inclusive com spreads caindo a preços de 2019 com grande diversificação dos instrumentos. O secundário tem uma boa volumetria e o mercado está saudável”, afirmou.

Balanço da gestão

O presidente do BC, que está em final de mandato, apresentou alguns avanços e desafios de sua gestão, a primeira experiência de uma autoridade monetária autônoma no Brasil. A agenda microeconômica incluiu aspectos como melhoria de recuperação de crédito; potencialização do mercado de capitais, com ações voltadas a securitização e novas ferramentas; implementação do Pix; desenho do Drex (a moeda digital do país); redução de assimetria de informações; fomento ao mercado de home equity; desenvolvimento do open finance e incentivo à criação de marketplaces de finanças.

Em termos macro, as preocupações atuais continuam relacionadas à trajetória da inflação, mas com componentes adicionais como as incertezas em relação ao custo da reconstrução do Rio Grande do Sul. “A questão do Rio Grande do Sul adiciona um fator de incerteza para a trajetória da inflação”, afirmou Campos Neto. Outro ponto de atenção do BC tem a ver com potenciais ruídos no Congresso para a aprovação de medidas importantes para o governo. “Temos hoje uma inflação corrente comportada, mas com expectativas do mercado desancorando. Estamos olhando de perto para esse ponto”, disse.

Como balanço de sua atuação no BC, Campos Neto ressaltou a importância do planejamento das ações, ao que ele credita parte do sucesso de iniciativas como o pix e o open finance. “Houve muitos entraves, uma pandemia, um problema interno de engajamento das equipes do Banco Central. Dicas que deixo para o meu sucessor são saber dizer não e ter a consciência de que não existe desenvolvimento sem inclusão”, disse.

Para Campos Neto, a intermediação financeira do futuro será mais digitalizada e mais tokenizada, com as instituições concorrendo num marketplace de soluções financeiras. O mercado de capitais, disse o presidente do BC, vai ser mais favorecido quanto menos o governo interferir nos mercados. “Cabe ao governo apenas fornecer condições, como uma boa regulação. O papel do governo deve ser específico, de fomento. A solução no mercado de capitais deve ser sempre privada”, completou.

O MKBR24 é um evento bienal sobre o mercado de capitais, realizado desde 2018, numa parceria entre a ANBIMA e a B3. Reúne grandes nomes do Brasil e do exterior para debater o cenário atual e as iniciativas que estimulem o crescimento sustentável do mercado de capitais brasileiro.

 

 

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Redação

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