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Financiamento da agenda de sustentabilidade depende de regras claras

Ana Buchaim

 

Publicado às 18h28

 

A agenda das finanças sustentáveis, representada principalmente pelas emissões de títulos verdes, tem crescido no Brasil, mas ainda restam importantes desafios para a continuidade desse movimento. Para financiar a transição energética e ajudar na mitigação das emissões de gases de efeito estufa, o mercado de capitais precisa de regras claras, transparência de informações e taxonomia local, além de uma parceria com os governos.

“Os padrões ajudam a dar credibilidade para os investidores e nisso o mercado tem papel relevante”, afirmou Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social da B3, em participação no MKBR24, evento realizado pela ANBIMA e pela B3.

Nos últimos anos, a ANBIMA lançou um guia para emissões de títulos ESG, estabeleceu uma classificação para fundos de investimento sustentáveis e criou a Rede de Sustentabilidade, enquanto a B3 lançou um índice que reúne as empresas que se destacam em indicadores de diversidade (IDIVERSA B3) e uma designação para ações verdes, entre outras iniciativas.

Se os investidores demandam ativos com o recorte de sustentabilidade, o Brasil igualmente tem avançado na estruturação de emissões, observou o diretor-presidente da BB Asset Management, Denísio Liberato. “Antes eram maiores, entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, para o financiamento de energias eólica e solar e para empresas de saneamento básico já consolidadas. Mas agora já é possível que operações menores financiem produção de coco de babaçu e açaí por populações ribeirinhas, por exemplo”, informou, lembrando da parceria da BB Asset com a gestora carioca JGP para a estruturação de operações mais customizadas.

Na outra ponta, é grande o interesse dos investidores, inclusive do varejo, como mostra a captação de R$ 600 milhões em apenas três semanas de um Fiagro da gestora que vai destinar recursos para a recuperação de terras degradadas. A BB Asset tem, ainda, um ETF que replica o IDIVERSA B3, para atender os investidores interessados no pilar “S” do ESG.

O valor da padronização

Na opinião do diretor de Sustentabilidade para a América Latina do UBS BB, Frederic de Mariz, para o mercado de capitais efetivamente financiar a sustentabilidade, as regras têm que ser claras.

“Isso é essencial para mercado, que opera de maneira racional, fazer fluir o dinheiro necessário”, afirmou, lembrando que a taxonomia europeia funcionou como impulsionador do movimento no país, mas que é possível o Brasil adotar padrões próprios. “Existe um enorme gap entre a necessidade de investimentos nessa agenda e o montante alocado todos os anos”, destacou.

Mariz disse ainda que são desafios para a estruturação de títulos verdes no país os times ainda reduzidos; a classificação, pelas empresas, das suas atividades que podem estar ligadas à agenda de sustentabilidade; a estruturação de operações incluindo adaptação a mudanças climáticas; e a comunicação com o mercado.

Sustentabilidade no negócio

Empresa que pela própria natureza de seu negócio pode originar ativos sustentáveis, a Sabesp recentemente reforçou o mapeamento dessas atividades. Entre elas, o diretor-presidente da companhia, André Salcedo, citou a expansão da rede de distribuição de água e saneamento e as ações de preservação de mananciais (que, inclusive, têm impacto positivo sobre a população do entorno). “A classificação de ativos sustentáveis dá visibilidade a uma agenda que é muito importante para a companhia”, acrescentou.

Nessa pauta, o Brasil tem uma característica interessante, ressaltou Mariz. “Enquanto na Europa a agenda é impulsionada por reguladores e consumidores e nos Estados Unidos existe uma barreira de polarização, no Brasil o protagonismo é das companhias”, concluiu.

O MKBR24 é um evento bienal sobre o mercado de capitais, realizado desde 2018, numa parceria entre a ANBIMA e a B3. Reúne grandes nomes do Brasil e do exterior para debater o cenário atual e as iniciativas que estimulem o crescimento sustentável do mercado de capitais brasileiro.

 

 

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Redação

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