Publicado às 11h44
As ações do Magazine Luiza (MGLU3) tiveram queda de 71% em 2021. Com essa desvalorização muitos investidores se perguntam se é hora de comprar o papel. Sobre o tema, a jornalista Clara Almeida entrevistou o analista Rodrigo Crespi, da Guide Investimentos.
Confira:
Finance News: Você acredita que o ano de 2022 vai ser um ano de recuperação para o Magazine Luiza?
Rodrigo Crespi: Eu diria que 2022 não. A gente está um pouco mais cético em relação ao curto e médio prazo para o setor de e-commerce em geral. Eu acho que nesse patamar de juros tão altos, com expectativa de inflação desancorada, a gente vê com maus olhos o setor no momento.
Além disso, tem players bastante importantes, principalmente os asiáticos que vêm ganhando bastante espaço. Eles estão querendo subir de patamar para o tipo de produto que eles oferecem, especificamente a Shopee, que entrou para fazer barulho com preços bem menores, mesmo com produtos de origem duvidosa, parece que eles têm um objetivo de subir de categoria.
Vai ser mais um player forte com bastante poder de fogo para queimar caixa e para atrapalhar os players brasileiros.
O cenário é diferente quando comparado a 2019. Essa queda em relação a 2020 é que, no ano passado, esses papéis estavam em um ambiente com juros baixos, além de um fluxo de dinheiro que entrava muito para e-commerce visto que serviço, por exemplo, não tinha muita opção por causa das restrições impostas pela pandemia. Então 2020 foi muito positivo para empresas de e-commerce, não só no Brasil, mas global. A Amazon, por exemplo, também atingiu seu maior valor de mercado ano passado. Agora o cenário já mudou bastante, a base comparativa é bem difícil, então para o curto e médio prazo a gente está bastante cético em relação ao setor de e-commerce.
Finance News: Aproveitando que você falou que em 2020 estava indo bem, em 2021 o Magalu está entre as maiores quedas no ano. O mercado exagerou?
Rodrigo Crespi: O Magalu sempre foi uma empresa de crescimento, então a expectativa em relação ao Magazine Luiza era muito alta. O Magalu foi, de fato, um divisor de águas. Trouxe esse conceito bastante forte de e-commerce para o Brasil, tanto que fez a Americanas e a Via correrem atrás do bonde e ficou, por muito tempo, à frente dessas empresas. Ele era negociado a múltiplos muito mais elevados do que a Americanas e muito mais do que a Via.
Hoje, a gente vê um reajuste do múltiplo. Aconteceu uma revisão para baixo do Magazine Luiza porque era esperado uma coisa e acabou sendo entregue outra.
A expectativa era muito alta, tanto que o pessoal brincava muito sobre “quem será o próximo Magalu”. Hoje em dia, ninguém mais brinca. Ou se falar, é com tom irônico, para saber quem vai cair muito. O cenário mudou bastante. Claro que a base comparativa, por ter feito com que ela subisse tanto, a queda acaba sendo muito maior. A expectativa para o futuro, pelo menos até 2022, é complicada e a gente está neutro no papel.
Finance News: Aproveitando que você falou dos múltiplos, vocês consideram que eles estão baixos e que isso é um indicador para compra?
Rodrigo Crespi: Acho que vai muito do tipo de investidor. Tem que ter em mente que vai ser um papel que ainda vai sofrer muita volatilidade. Tivemos o Copom (Comitê de Política Monetária) aumentando mais 150 bps (a taxa Selic) e, além disso, com um tom bastante contracionista, portanto menos dinheiro em circulação pelos juros mais elevados, ocasionando volatilidade.
Mas a execução da empresa é boa e nós também gostamos da parte operacional. Ela teve crescimento do GMV (Volume Bruto de Mercadorias) de e-commerce e ela tem uma logística muito boa.
Ela tem sido sempre uma empresa vencedora, tem investido bastante em tecnologia, tem o seu super app e tem expandido mais com foco financeiro.
Então para o investidor de longo prazo, eu acho que faz sentido sim, mesmo com esse desconto que vem tendo Magazine Luiza.
Finance News: E quais são os gatilhos que você acredita que podem levar as ações do Magalu a se recuperarem?
Rodrigo Crespi: Quando a gente tiver um cenário sem mais preocupação com pandemia, primeiro, e depois quando a gente tiver o fiscal mais ancorado, o que faz com que juros futuros, que pressionam muito o custo de capital dessas empresas com viés mais tecnológico, caiam.
Então, não são triggers (acontecimentos podem causar altas ou quedas no valor das ações) como a venda ou a aquisição de alguma coisa, é um fator que toma muito mais tempo porque ele é progressivo.
Você não vê a inflação despencar 10 pontos percentuais igual uma aquisição, que é do dia para a noite. Então inflação e juros mais baixos são muito importantes para o setor em geral, até mesmo por conta de repasses.
Além disso, eu diria que é a situação relacionada com a pandemia. Portanto, é muito mais macro, do que micro em si.
Da parte micro, o que eu diria é que a concorrência tem ficado mais complicada, eu não vejo isso sendo passageiro, eu acho que esses players estrangeiros vieram para ficar. Tanto a Amazon, como Ali Express e Shopee vieram para ficar. Tem uma outra de vestuário, a Shein, que também está fazendo bastante barulho. O Magazine Luiza tem explorado a parte de vestuário, pode ser uma nova frente, uma nova fonte de receita que tende a ser mais resiliente em momentos de alta da inflação. O vestuário você consegue repassar um pouco mais porque o consumidor tende a ter preferência em ter roupa antes de trocar o celular. O celular você não troca a cada seis meses, mas roupa é mais comum você ter uma troca mais frequente.
Finance News: Para finalizar, qual o recado você daria para quem quer investir no Magalu agora porque as ações caíram muito?
Rodrigo Crespi: O recado seria de que vai enfrentar bastante volatilidade, é uma empresa de crescimento que não tem entregado mais o que o mercado esperava e, portanto, é uma empresa que você precisa ter estômago.
É para carregar para longo prazo e você pode ver o seu papel ainda cair bastante. Mas a perspectiva é de que, um dia, ele vai se estabilizar um pouco mais. Isso quando a gente tiver um fiscal mais ancorado e a inflação dentro do controle.
Importante:
O Finance News não faz recomendação de compra ou venda de ativos. O texto acima tem por objetivo informar.
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