8 perguntas e respostas sobre as ações do Magazine Luiza e da Via

analista Tales Granello, da Eleven

Publicado às 14h

As ações do Magazine Luiza (MGLU3) têm desvalorização de 75% no acumulado deste ano. Os da Via (VIIA3), de 72% em 2021. Os papéis de ambas lideram as maiores quedas do Ibovespa neste ano.

Quem tem ações dessas varejistas mostra preocupação com as fortes desvalorizações. Quem não tem, avalia se é hora de comprar.

Sobre o tema, o Finance News conversou com o analista Tales Granello, da Eleven. 

Leia:

Finance News: O ano de 2022 poderá ser de recuperação para o Magazine Luiza?

Tales Granello: O ano que vem vai ser difícil para o varejo em geral. Para grandes varejistas e e-commerce vai ser um ano difícil.  Principalmente pelo cenário fiscal. O PIB ano que vem deve ficar estável. A gente tem um endividamento alto das famílias. A taxa de juros subiu, deve ficar em dois dígitos ano que vem inteiro, isso torna o crédito mais caro e diminui o consumo. Também tem a inflação alta. O IPCA (índice oficial de inflação) já está em 10,75%. Esse cenário todo, ele corrobora para o consumo ser mais fraco. E isso acaba atrapalhando o crescimento dessas empresas e consequentemente impactando suas margens.

Outro fator aqui no Brasil agora que a gente vê a entrada de players chineses mais fortes. 

Todo esse cenário mais difícil de crescimento e também a questão do ambiente mais competitivo vai se tornar mais desafiador.

Ano que vem talvez comece a ter algo que ajude essas empresas no quarto trimestre. No terceiro trimestre começa a ter o 5G no Brasil, pessoas querendo trocar de celular. Então no terceiro trimestre pode ter alguma coisa que ajude. Mas o quarto trimestre talvez a recuperação comece, dependendo da eleição também. O natal, Black Friday e Copa do Mundo juntos. Se souber trabalhar bem, com certeza vai ter um bom desempenho.

Finance News: As ações MGLU3 estão entre as maiores quedas de 2021. O mercado exagerou? 

Tales Granello: Quando a gente começa a comparar os múltiplos das ações, por exemplo, de Magazine Luiza e Americanas, eles começam a ficar parecidos. Dado que o Magazine Luiza sempre foi a queridinha do setor desde quando ela fez o turnaround, ela tem um histórico de execução da estratégia dela muito bom. Os múltiplos dela sempre foram mais esticados. A gente já vê os múltiplos dela voltando a ficarem parecidos com um dos principais concorrentes dela. Então, é um alerta que o papel pode começar a ficar interessante. A gente tem um upside interessante, mas devido a um ano difícil que o setor deve enfrentar, não vejo alavanca de curto prazo que faça o papel recuperar pelos menos boa parte do que caiu.

Finance News: Então não tem gatilhos de curto prazo?

Tales Granello: A gente não deve ter um bom natal, isso é ruim para o Magazine Luiza, para qualquer empresa de e-commerce. Ela tem hoje 100 dias de estoque. A companhia trabalha normalmente com 70, então tem uma sobra de estoque. Não sei como foi na Black Friday, não informaram ainda ao mercado como foi a venda deles. No natal também devem fazer uma venda ali para tentar recompor o nível ótimo de estoque e também na liquidação de começo de ano tradicional deles. Se o natal não for bom, até o terceiro trimestre (de 2022) não vejo gatilho que possa fazer o papel andar. 

Finance News: Magazine Luiza está barata, sob o aspecto dos fundamentos?

Tales Granello: Vale pontuar que o ambiente concorrencial mudou, o que afeta os múltiplos. Se a gente olhar o longo prazo, sim. Ela começa a ficar não exatamente barata, mas quando você compara o múltiplo preço sobre lucro (P/L) ela fica parecida com o de Americanas. Como ela tem um histórico de execução muito bom, você começa a comparar. A empresa parece estar barata. Se você compara com o múltiplo histórico dela, desde 2011, está um pouco acima ainda. 

Finance News: Para quem quer muito comprar ações do Magazine Luiza, o que você tem a dizer?

Tales Granello: É importante analisar bem o cenário, entender bem os riscos, o que pode fazer o papel subir ou não. Tem que avaliar bem e não comprar só porque caiu. Tem que entender o cenário que a empresa está inserida e quais são as estratégias para o curto e o longo prazo.

Finance News:  Com relação às ações da Via (VIIA3), o que esperar para o ano que vem?

Tales Granello: A Via tem aquela questão do passivo trabalhista. Foi informado ao mercado, a gente conversou com a empresa. A questão está bem endereçada. Ela está assessorada pelos melhores escritórios, consultorias. É um problema que está no preço do papel, porém, está provisionado aquele R$ 1,2 bilhão. Caso surja mais, o papel deve sentir.

Além de todo o cenário macro que Magalu enfrenta, a Via tem mais esse fator. 

O investidor deve ficar de olho nesse ponto, é um ponto de atenção, é um risco. Mas acredito que a companhia tem tomado todas ações que estão ao alcance dela para mitigar os riscos. 

Finance News: Via é um papel barato do ponto de vista dos fundamentos?

Tales Granello: Hoje em dia ela está bem mais descontada que os concorrentes dela, mas ela tem esse ponto do passivo trabalhista. Eu acho que, enquanto não tiver uma resolução clara disso, por mais que ela tenha créditos tributários que sejam mais que esses passivos, o crédito tributário nem sempre é uma certeza a recuperação total deles. Enquanto não tiver uma resolução do passivo trabalhista, não vejo que o papel deva mudar tanto assim. 

Vale ressaltar novamente que a companhia está endereçando a questão do passivo trabalhista, e que esse problema não foi causado pela gestão atual, foi algo herdado.

Finance News: O Auxílio Brasil impacta Via e Magalu?

Tales Granello: Sim, impacta porque pode ser direcionado diretamente para os itens que essas empresas vendem. Ainda mais pensando na estratégia de marketplace deles, que é muito mais ampla do que já foi no passado. Tem itens de alimentação, higiene, itens de primeira necessidade que são vendidos na plataforma. É um gatilho.

Importante:

O Finance News não faz recomendação de compra ou venda de ativos. O texto acima tem por objetivo informar.

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