Publicado às 11h16
De cada 100 empresas com ações negociadas em bolsa de valores no Brasil, apenas seis têm três ou mais mulheres em cargos de direção, 25 têm somente uma e 61 não registram mulheres entre seus executivos estatutários. Esses dados são parte de um levantamento inédito feito pela B3, a Bolsa do Brasil, e têm a missão de ir além de reafirmar um retrato do universo feminino brasileiro.
Com esse mapeamento, que inclui, também, a participação das mulheres nos Conselhos de Administração, a B3 pretende reforçar o debate sobre diversidade no mundo corporativo brasileiro e fomentar a reflexão do papel das empresas perante a sociedade.
Segundo os Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, do IBGE, as mulheres representam mais da metade da população brasileira, são, em média, mais instruídas, mas são minoria até mesmo nos cargos gerenciais (37,4%) e, de forma geral, ganham 77% do rendimento dos homens.
O levantamento da B3 sobre a presença feminina em diretorias e conselhos de administração foi feito em junho deste ano e usou como referências as informações públicas prestadas pelas próprias companhias em documentos regulatórios encaminhados à Bolsa. O retrato consolidado das 408 empresas analisadas foi o seguinte:
· 61% não têm uma única mulher entre seus diretores estatutários;
· 45% não têm participação feminina no Conselho de Administração (CA);
· 25% das empresas declaram ter uma apenas uma mulher nos cargos de diretoria;
· 32% têm uma mulher no CA;
· 6% das companhias registram a presença de três ou mais mulheres na diretoria;
· 6% têm três ou mais mulheres no conselho de administração.
O mapeamento avançou numa análise por segmento, incluindo as empresas listadas no nível Básico, Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado, numa tentativa de avaliar a relação entre a agenda ESG (sigla que reúne as questões relacionadas ao meio ambiente, à governança e ao social) e o conceito de governança que ganhou força a partir do ano 2000, com a criação do Novo Mercado e de regras que trouxeram maior transparência ao mercado brasileiro.
Do total de 190 empresas que compõem o Novo Mercado, que estabelece regras elevadas de governança corporativa, 89% têm apenas uma, ou nenhuma, mulher entre seus diretores estatutários. Já as companhias com três, ou mais, mulheres em cargos de direção são 3% do total.
No Nível Básico, as empresas com uma ou nenhuma mulher em cargos de direção somam 86%, de um total de 168 companhias. E as que têm três ou mais mulheres são 7%. No Nível 2, esses percentuais são, respectivamente, 87% e 4%.
As empresas do Nível 1 foram as que apresentaram o menor percentual (67%) quando o critério foi ausência ou a presença de apenas uma mulher entre os diretores estatutários, e o maior (26%) quando analisamos quem tem três ou mais mulheres na diretoria.
Conselho de Administração
O levantamento analisou, ainda, a participação feminina nos Conselhos de Administração. Entre as empresas listadas no nível Básico, 81% não registram presença feminina no CA ou têm apenas uma integrante mulher. Esse percentual fica em 70% entre as empresas do Nível 1, 79% entre as do Nível 2 e 75% quando avaliamos as do Novo Mercado.
A quantidade de empresas com três, ou mais, mulheres no Conselho de Administração não passa de 7% entre as companhias listadas no Novo Mercado, de 4% nos Níveis 1 e 2 e de 6% no nível Básico.
O recorte das empresas com duas mulheres no CA mostra a seguinte realidade: 26% das companhias do Nível 1; 18% no Novo Mercado; 17% no Nível 2 e 13% no Básico.
Lideranças
Um olhar sobre a participação feminina no alto escalão das empresas se torna ainda mais relevante quando pesquisas comprovam a correlação da diversidade de gênero com a maior lucratividade das companhias e, em especial, a importância do papel das lideranças numa jornada de transformação cultural.
Para serem bem-sucedidas, as ações focadas em ampliar a diversidade nas empresas precisam de engajamento dos líderes. No universo das 408 empresas com ações negociadas no mercado brasileiro e que foram alvo da pesquisa da B3, há 2.596 cargos de conselheiros de administração, enquanto os de diretores estatutários somam 2.126. Isso amplia o leque de embaixadores da diversidade dentro das organizações para que a mudança ocorra, de fato, em todos os níveis.
A B3 tem reafirmado seu compromisso com a diversidade e a agenda ESG em inúmeras ações, seja como protagonista, indutora ou apoiadora de melhores práticas. Como infraestrutura de mercado, o intuito da companhia é fornecer parâmetros para que, de um lado, as empresas consigam se autoavaliar e dar transparência às suas ações e, do outro, os investidores e a sociedade como um todo consigam acompanhar os avanços obtidos.
ISE B3
Neste sentido, o ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial) é um importante aliado na análise do comprometimento das empresas com as melhores práticas dentro da agenda ESG. Criado em 2005, foi um dos primeiros índices ESG do mundo e avalia iniciativas relacionadas a questões sociais, ambientais e de governança. Nestes 16 anos, ele recebeu ajustes para que possa refletir, ainda mais, a evolução do mercado e o avanço das demandas pela adoção de boas práticas pelas companhias.
“Hoje, diante das necessidades da agenda ESG que se impõe às empresas, acreditamos que o ISE B3, o Novo Mercado e outras iniciativas que incentivem boas práticas de governança são importantes contribuições ao mercado”, enfatiza Flávia Mouta, diretora de Emissores da B3.
Como indutora de boas práticas no mercado, a B3 defende que a agenda de diversidade e inclusão é uma questão de sustentabilidade dos negócios num mundo cada vez mais globalizado e plural, onde consumidores querem ver seus valores representados nas marcas com as quais se relacionam.
Em setembro de 2021, a B3 se tornou a primeira bolsa de valores do mundo a emitir um Sustainability-Linked Bond (SLB) no mercado de capitais. Além disso, também é a primeira empresa brasileira a emitir um SLB no exterior com metas exclusivamente sociais, atreladas à diversidade e inclusão:
· Criação, até 2024, de um índice de mercado para medir a performance de empresas que tenham bons indicadores de diversidade;
· Atingir, até 2026, o percentual de 35% de mulheres em cargos de liderança na B3 (gerentes, superintendentes e diretoria, o que inclui também os C-level)
Esses são apenas alguns exemplos das várias iniciativas que a B3 tem implementado nos últimos anos em busca de mais diversidade no mercado de capitais brasileiros, a exemplo do que vem acontecendo no mundo.
Fonte: B3
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