MANCHETE SECUNDÁRIA

Crédito privado e títulos públicos de longo prazo: alternativas na Renda Fixa?

Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital

 

Publicado às 10h49min

 

O CDI, ou Certificado de Depósito Interbancário, é uma taxa de juros utilizada nos empréstimos entre os bancos. Essa taxa, usada como principal índice dos investimentos de renda fixa (aqueles que possuem uma rentabilidade previsível), está cada vez menor por causa da queda da Selic.

Essa situação ligou o sinal amarelo para os investidores que não querem sair da renda fixa e estão vendo seus rendimentos diminuir. Pior: ano que vem, segundo estimativas do mercado no relatório Focus, a expectativa é de inflação (IPCA) em 3% e Selic em 2,75% ao ano. Em outras palavras, juro real negativo.

Afinal, é possível aumentar a rentabilidade com produtos da renda variável com a Selic em sua mínima histórica?

Sobre o tema entrevistamos Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital. Álvaro é Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tem pós-graduação em Finanças pelo Insper.

 

Finance News – Com o CDI cada vez menor devido à queda da Selic, o investidor de renda fixa deve buscar mais risco na alocação de renda fixa?

Álvaro Frasson – Inevitavelmente, seja renda fixa ou renda variável, tem que correr mais risco. Há 10 anos, com uma Selic de dois dígitos, era muito mais fácil ser um investidor conservador e moderado. Agora, com a Selic de 2% ao ano, a história muda. Quem quiser um pouco mais de retorno, já que 2% ao ano mal cobre a inflação, vai precisar correr mais risco no crédito privado (debêntures, Certificado de Recebíveis Imobiliários, Certificado de Recebíveis do Agronegócio, entre outros) ou em título público de longo prazo. Esses produtos têm maior volatilidade nos preços, mas consequentemente podem trazer mais retorno.

Finance News – Para quem quer arriscar mais, mas não quer deixar a renda fixa, quais produtos vocês recomendam?

Álvaro Frasson – A gente observa uma oportunidade em títulos públicos com vencimentos mais longos, ou seja, uma NTN-B 45 ou 50 (NTN-B paga de acordo com uma taxa que é prefixada no ato da compra com o acréscimo da inflação, o IPCA), que são mais voláteis em termos de preço. Porém, dado o estresse que o mercado ainda vive, hora por conta da pandemia, hora por conta da saída de alguns componentes do ministério da economia, essa curva de juros de curto, médio e longo prazo também fica mais estressada. Então, quando você tem um título de longo prazo, se hoje a taxa é muito alta, a medida que a gente acredita em uma normalização do mercado, essa taxa vai baixar.

E sobre a renda fixa, a oportunidade é optar por títulos públicos de longo prazo. Quem estiver disposto a um pouco mais de risco, pode ir para o crédito privado, que paga o IPCA mais um juro real.

Finance News – Exposição maior à CDBs, LCI ou LCA de bancos médios, pode ser uma alternativa?

Álvaro Frasson – Sem dúvida. Com uma Selic muito baixa você vai precisar recorrer a bancos médios para conseguir ter um percentual do CDI mais interessante nesse CDB. Ou seja, aquele CDB mais clássico de um banco tradicional, que paga 95%, 90% do CDI, hoje em dia não interessa a mais ninguém porque, com essa inflação e com o juro baixo nominal, não há rentabilidade. Então, é preciso correr mais risco também nesse tipo de investimento.

Finance News – Qual o percentual do CDI deve ser referência para o investidor?

Álvaro Frasson – Quem paga mais de 200% do CDI ou mais de 250% era sempre considerado muito arriscado. Mas 200% do CDI hoje são 4% ao ano. Que risco é esse? É preciso avaliar caso a caso, pois o percentual por si só não tem uma métrica. Hoje os percentuais são mais elevados do que no passado, mas é preciso entender mais sobre o banco médio em si do que exatamente fazer um filtro por percentual do CDI.

Finance News – No atual cenário (juro baixo), Títulos do Tesouro devem estar na carteira do pequeno investidor? Quais eles devem descartar?

Álvaro Frasson – O Tesouro deve estar na carteira do investidor de renda fixa, mas não com vencimento de curto prazo, e sim com vencimento de longo prazo, ou seja, aquelas NTNBs até 2030, 2035, talvez não sejam tão interessantes. O mais interessante agora é observar as de 40, 45, 50. Tem até NTB 55 já. Se o mercado e o país se normalizarem um pouco mais a partir de agora e ano que vem, a gente vai ver essas taxas mais baixas e esses títulos públicos com vencimento mais longos – ai estão as oportunidades melhores.

Finance News – Quem investe na renda fixa no longo prazo deve se preocupar os juros baixos de agora?

Álvaro Frasson – Se souber se posicionar, não deve se preocupar. O juro baixo não é algo apenas do momento presente. É uma nova realidade do Brasil. É de médio e longo prazo também. Teremos que conviver com isso.

O investidor vai precisar saber se posicionar mais em renda fixa. É o que a gente está falando agora: não basta mais comprar aquele CDB tradicional de seu banco e pagar menos de 100% do CDI. Agora, você vai precisar recorrer a crédito privado, títulos de longo prazo, que são mais voláteis, e entender mais o case de bancos médios, caso você queria comprar um CDB, por exemplo.

Finance News – Os investidores que mantém uma reserva de emergência em renda fixa enfrentam um dilema: deixam o dinheiro lá e correm risco de perder para inflação ou aplicam em algo mais arriscado, correndo risco de perdas (e sem liquidez diária). Qual a orientação para essas pessoas?

Álvaro Frasson – Esse investidor não deve passar a investir em renda variável majoritariamente, mas pode pensar em alocar um percentual de 5% ou 10% desta reserva de emergência. Com um cenário de 2% de juro nominal, você pode colocar um pouquinho de pimenta nesse prato. Essa reserva pode ser mais apimentada. Acho que as recomendações de investimento são as mesmas de renda fixa, tanto para quem quer correr um pouco mais de risco, ou não. A diferença vai ser a liquidez. Se é reserva de emergência, isso significa que você precisa mais de liquidez. Sendo assim, talvez o crédito privado não seja a melhor alternativa para esse percentual de seu patrimônio, já que a reserva de emergência serve para situações em que você precisa rapidamente desses recursos. Títulos públicos com vencimentos médios podem ser uma alternativa.

 

 

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