Para quem não é especialista na área, ler o balanço anual ou trimestral de uma empresa é uma tarefa árdua. Até o simples relatório resumido para a imprensa (press-release) pode ser desafiador.
Neste artigo, vamos tentar ajudar você, que não tem intimidade com a linguagem contábil, a identificar, diante de um resultado trimestral de uma empresa, quais indicadores é preciso ficar de olho.
Sabemos que o tema é amplo. Nossa meta não é uma aula, nem esgotar aqui o assunto.
Para nos ajudar nesse trabalho, entrevistamos o economista, investidor e autor do site Bugg (bugg.com.br), William Castro Alves. Também conversamos com o especialista em mercado financeiro e de capitais, o consultor financeiro, João Manoel Paz Gusman.
Uma sugestão de William é, antes de olhar o balanço, ler o press-release.
“Sempre indicava a leitura do press-release de resultado. Em que pese que a empresa normalmente evidencia seu lado positivo, os números apresentados ali são verdadeiros e ajudam a administração da empresa a dar uma visão a respeito do que se passa na sua operação”.
William afirma também que antes de olhar o balanço, é importante entender um pouco sobre setor em que a companhia opera.
“Bom eu penso que cada empresa possui uma realidade que é intrínseco ao negócio dela. Ou seja, ao analisar o balanço de um banco eu vou olhar uma coisa, ao olhar um supermercado outra coisa, uma indústria, etc. Então eu penso que o principal fator de uma análise fundamentalista é entender a empresa que você está analisando, saber como o negócio funciona e o que impacta em seu resultado”.
O economista ressalta que muitas vezes o mercado se apega a fatores específicos, dependendo da situação. “Vou citar um exemplo: por volta de 2015, 16 o cerne de análise do balanço da Petrobras era o seu endividamento, justamente porque sua dívida estava alta e preço do petróleo em níveis baixos, logo muitos no mercado tinham receio de que ela não conseguiria honrar suas dívidas e isso influenciava diretamente nos preços”.
William destaca que avalia a evolução trimestral de uma companhia ao longo do tempo.
“Gosto de ver a evolução trimestral (análise horizontal, ou seja, do horizonte). Em termos de indicadores as margens fornecem uma boa medida de como o dinheiro é gasto. Por exemplo: a Margem Bruta (lucro bruto dividido pela receita líquida) nos dá o peso dos custos de produção; a Margem Ebitda nos fornece uma boa visão da operação geral da empresa, englobando custos e despesas operacionais”.
É importante também verificar os indicadores ROE e ROIC. O ROE (Return on Equity), Retorno sobre o Patrimônio Líquido, mede o quão eficiente uma empresa é em “geração de lucro”, isto é, o quão rentável a companhia consegue ser.
Já o o ROIC (Return On Invested Capital), o Retorno Sobre o Capital Investido, permite saber a eficiência de uma empresa ao alocar o capital sob seu controle em investimentos lucrativos.
“Para mensurar o quão bom ou ruim é o investimento penso que indicadores como ROE e ROIC devem ser sempre comparados com os custos de oportunidade ajustados pelo risco. Ou seja, se seu custo de oportunidade é investir numa LFT, quanto a mais você espera ganhar investindo em ações? 5%? 6%? Supondo 6%, teríamos 12,5% (a Selic de 6,5% mais os 6%). Comparar esses 12,5% com o ROE e ROIC das empresas investidas pode ser uma forma de verificar se vale ou não a pena investir, uma vez que nos tornamos sócios do patrimônio líquido das empresas e, portanto, queremos que esse cresça acima dos nossos custos de oportunidade”, explica William.
Já João Manoel Paz Gusman destaca que prefere olhar primeiramente o lucro líquido.
“Primeira coisa que vejo é o lucro líquido, depois o preço/lucro, para ser simplista. Depois vejo a evolução de no mínimo 5 anos do lucro. Tendência é muito importante: uma empresa que tem lucro e vem reduzindo esse lucro a cada período é preocupante. Uma empresa que vem de prejuízo e a cada período vem reduzindo e passando para o lucro, em determinada situação é melhor investir na segunda empresa. A tendência é o segredo do sucesso do investimento”.
Gusman afirma ainda que é importante também ficar de olho na tendência da dívida. “Grau de endividamento, e sempre acompanhando a tendência. Empresa que vem reduzindo graus de endividamento com lucros constantes é muito importante. Agora empresa com endividamento alto e lucro pequeno ou prejuízo, aí investir é risco. A não ser que a empresa esteja num setor que começa a ser a bola da vez”, avalia.
O consultor salienta que diante de dúvidas é sempre bom procurar um especialista no assunto ou, ao menos, ouvir a opinião de quem entende do assunto. Escolher uma empresa com bons fundamentos para se tornar sócio é uma tarefa demorada que exige paciência.
E o que é uma companhia com bons fundamentos? Na opinião de Gusman é “empresa que apresenta lucro líquido constante e de preferência crescente”.
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