As eleições mais disputadas para o Parlamento Europeu em décadas chegaram ao fim neste domingo (26) com a direita eurocética e anti-imigração e os ambientalistas ganhando espaço sobre partidos tradicionais que costumavam formar o centro político do bloco.
Ao longo de quatro dias de votação, eleitores foram às urnas nos 28 países da União Europeia (UE), numa participação estimada em 51% – excluídos aqui os eleitores do Reino Unido –, a mais alta dos últimos 20 anos. Ao todo, 426 milhões de pessoas foram convocadas a votar.
As eleições deste ano foram vistas como um teste da influência dos movimentos nacionalistas, populistas e de extrema direita, que ganharam força no continente nos últimos anos e influenciaram decisões importantes, como a saída do Reino Unido da União Europeia.
O pleito ainda opôs, de um lado, os defensores de uma UE mais unida e, de outro, aqueles que consideram o bloco um corpo burocrático e intervencionista e defendem a restrição da imigração e que o poder retorne para as mãos dos governos nacionais.
Enquanto partidos pró-UE ainda devem ficar com uma fatia significativa do Legislativo sediado em Bruxelas e Estrasburgo – projeções apontam que eles ocupem cerca de dois terços das 751 cadeiras –, seus adversários tiveram ganhos significativos.
Na França, projeções indicam que o partido ultradireitista e anti-imigração Reunião Nacional, de Marine Le Pen, despontou em primeiro lugar, em surpreendente revés para a legenda centrista do presidente Emmanuel Macron, que faz da integração da UE o mote de seu governo.
Derrotada por Macron na última eleição francesa, Le Pen afirmou que o resultado “confirma a nova divisão nacionalista e globalista” na França e em outros lugares do mundo.
As projeções na Alemanha, o maior país da União Europeia, também mostram quedas drásticas para o partido da chanceler federal, Angela Merkel, e seu parceiro de coalizão de centro-esquerda, enquanto os verdes cresceram consideravelmente – tornando-se o segundo maior partido –, e os populistas de direita ganharam um pouco mais de força.
O ministro do Interior e vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, figura importante entre os nacionalistas linha-dura e anti-imigração, disse ter sentido “uma mudança no ar” e adiantou que a vitória de seu partido – a ultradireitista Liga, projetada para se tornar a principal força da Itália – “mudaria tudo na Europa”.
Para o alemão Manfred Weber, candidato do Partido Popular Europeu (EPP), a maior bancada do Parlamento Europeu, estas eleições foram marcadas pelo enfraquecimento do centro político tradicional e, por isso, é “mais do que necessário que as forças que acreditam nesta Europa, que querem levar esta Europa a um bom futuro e que têm ambições para esta Europa” trabalhem unidas.
São muitos os fatores que podem ter contribuído para essa mudança de ares no continente. A Europa foi bastante afetada nos últimos anos pela crise migratória de países do Oriente Médio e da África, além de ataques mortais perpetrados por extremistas islâmicos.
Também houve crescentes tensões em torno da desigualdade econômica e forte aversão ao establishment político – sentimentos não muito diferentes dos que levaram à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
O primeiro-ministro cada vez mais autoritário da Hungria, Viktor Orbán, um possível aliado do italiano Salvini, disse esperar que estas eleições tragam uma mudança favorável a partidos políticos contrários à imigração. Para ele, o tema será o responsável por “reorganizar o espectro político na União Europeia”.
Por outro lado, os defensores de uma UE mais unida, liderados pelo francês Macron, argumentam que questões como mudanças climáticas e imigração são muito amplas para qualquer país resolver sozinho.
O presidente francês, cujo país foi abalado nos últimos meses pelo movimento populista dos coletes amarelos, descreveu as eleições deste ano como “as mais importantes desde 1979, porque a União Europeia enfrenta um risco existencial” por parte dos nacionalistas que buscam dividir o bloco.
A ascensão dos populistas eurocéticos, contudo, não foi tendência em todos os países. O Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), de extrema direita, deve ficar em terceiro lugar no país depois de ser atingido por um escândalo de corrupção durante a campanha – o que levou ao colapso da coalizão de governo e à renúncia do vice-chanceler federal.
Na Holanda, o Partido para a Liberdade (PVV), liderado pelo populista antieuro e antimigração Geert Wilders, deve perder todos os seus assentos no Parlamento Europeu enquanto as projeções apontam para uma vitória dos social-democratas.
Analistas duvidam da capacidade dos populistas de formarem uma coalizão efetiva – como almeja Salvini –, dadas as diferenças em questões-chave, como as relações com a Rússia.
Os populistas “alcançaram o mesmo tamanho de onda, talvez um pouco maior, do que em 2014, mas não há um tsunami”, disse Sebastien Maillard, diretor do instituto Jacques Delors. Ele prevê que os eurocéticos não serão capazes de “perturbar a vida democrática” no próximo parlamento.
O resultado destas eleições pode deixar as duas principais bancadas do Parlamento Europeu, o EPP e os Socialistas & Democratas (S&D), sem maioria, abrindo caminho para complicadas negociações para a formação de uma coalizão.
Com isso, os verdes e os liberais da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE) devem se tornar forças decisivas.
Agência Brasil – Deutsche Welle (agência pública da Alemanha)
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