A equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, definiu nomes capazes de levar adiante as propostas que devem sustentar o governo baseadas no pensamento liberal, rigor na busca pelo equilíbrio das contas públicas, controle da inflação e mudanças na estrutura estatal, incluindo projetos de privatizações. A avaliação é de economistas ouvidos pela Agência Brasil, que destacam ainda a preocupação em evitar rupturas e dar continuidade a aspectos considerados positivos, como a condução do Banco Central e do Tesouro Nacional.
Ontem (15), foi anunciado que o economista Roberto Campos Neto será o próximo presidente do Banco Central e que Mansueto de Almeida será mantido no Tesouro Nacional. Anteriormente, a equipe de Paulo Guedes, que comandará o superministério da Economia, confirmou Joaquim Levy para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O professor de economia do Insper Otto Nogami disse à Agência Brasil que a nova equipe deverá adotar medidas menos intervencionistas do que a anterior.
“A gente começa a observar, principalmente dentro da estrutura interna do Ministério da Fazenda, uma gradativa mudança do pensamento econômico. Nós estamos saindo de uma característica mais keynesiana, que seria mais intervencionista, com uma forte participação do Estado na atividade econômica, para um pensamento liberal muito bem claro e definido.”
O coordenador da graduação em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, destaca a adoção de uma “política ortodoxa” cuja preocupação está no equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. “Então é uma equipe, como a do governo atual, que se precisar, pode aumentar os juros, sim, para reduzir o nível de inflação. É o que a gente chama de política ortodoxa.”
Nogami disse que para ter sucesso a nova equipe também precisará trabalhar em conjunto com bons articuladores políticos. “Há a necessidade que essa equipe construa uma ligação mais estreita com o Congresso. Haveria necessidade que essa equipe tivesse alguém com facilidade de trânsito dentro do Congresso Nacional para ir articulando nos bastidores essas necessidades que a equipe vai exigir.”
Para Sampaio, a tendência é de Paulo Guedes defender a redução do papel do Estado. “O Paulo Guedes tem um perfil mais agressivo, ele é muito mais liberal. Na prática não vai mudar muito. Muita coisa tem que ter aprovação, tem que passar pelo Congresso”, disse. “No [setor] público você não faz o que você quer, faz o que você pode. Talvez isso seja um choque de realidade para ele.”
Nogami disse que a nova gestão deve buscar outras mudanças na estrutura estatal para estabilizar as contas públicas. “Nós chegamos a uma situação crítica de quase 5% do PIB [Produto Interno Bruto] deficitário. Isso vai envolver uma reforma administrativa, não só previdenciária. Pode ser que haja um encaminhamento também para a reforma tributária dada a caraterística dos integrantes dessa nova equipe que, isoladamente, já comentaram várias vezes que haveria necessidade de uma simplificação do sistema de arrecadação do país.”
Sampaio acrescentou que um teste de fogo para o novo governo será a negociação em torno do acordo para aprovar a reforma da Previdência. Para ele, alterações nas regras de aposentadoria teriam de ser feitas já no início do governo. “Passar a reforma, além de aliviar a questão fiscal, ela dá um sinal importante. Dá um sinal político de apoio ao governo. Seria muito estratégico para eles conseguirem isso no primeiro ano.”
Sampaio e Nogami destacam ainda que há semelhanças entre os nomes atuais do governo Michel Temer e os escolhidos por Bolsonaro. “O Roberto Campos é muito parecido em termos de carreira com o Ilan [Goldfjan, atual presidente do Banco Central]”, analisou Sampaio.
Para Nogami, a decisão de manter Mansueto de Almeida como secretário do Tesouro Nacional é uma sinalização de continuidade. “A própria manutenção do Mansueto alinha bem nessa direção.”
Texto produzido pela Agência Brasil
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