O Banco Mundial reduziu pela metade a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano. No relatório regional semianual “Sobre Incertezas e Cisnes Negros: Como Gerenciar Riscos na América Latina e Caribe”, divulgado hoje (5), a previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, caiu de 2,4% de 1,2%.
Para 2019, também houve diminuição na estimativa para o crescimento do PIB: de 2,5% para 2,2%.
No relatório, o Banco Mundial lembra que, no fim de junho, o Banco Central reduziu sua estimativa de crescimento em 2018 para 1,6% (a previsão anterior era de 2,6%), após a greve dos caminhoneiros que paralisou setores da economia.
“A persistência de grandes e aparentemente intratáveis déficits fiscais, a falta de uma reforma previdenciária significativa e a crescente incerteza política sobre as eleições de outubro, em conjunto com a recente apreensão em mercados de capital internacional, colocaram em questão até mesmo esse crescimento modesto, com a previsão atual [do Banco Mundial] em 1,2% para 2018”, diz o relatório.
A revisão da estimativa para o Brasil, responsável por mais de um terço do PIB da região, foi um dos motivos que determinaram a redução da expectativa de crescimento para a América Latina e Caribe. A previsão retraiu para 0,6% em 2018 e 1,6% em 2019. As previsões anteriores eram 1,8% neste ano, e 2,3% em 2019.
Além da desaceleração no Brasil, a estimativa para a região foi afetada pela instabilidade de mercado iniciada em abril na Argentina, pela deterioração continuada da situação na Venezuela, e uma piora do cenário internacional. Se fosse desconsiderada a Venezuela, o PIB da região cresceria 1,6% este ano e 2,1% em 2019.
O Banco Mundial destaca que a Venezuela “continua a implodir com uma crise econômica, financeira e social sem precedentes na história moderna da região”.
O PIB da Venezuela deverá cair 18,2% em 2018. A inflação acumulada esperada é de 1.000.000% até o fim do ano. O relatório cita que, de acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM) das Nações Unidas, mais de 1,6 milhão de pessoas deixaram a Venezuela desde 2015, sobrecarregando recursos sociais e habitacionais em países vizinhos, particularmente na Colômbia, que está hospedando cerca de 935 mil imigrantes venezuelanos.
Na América do Sul é esperada uma contração de 0,1% em 2018 e um crescimento de 1,2% em 2019. Ao desconsiderar a Venezuela, o crescimento seria de 1,2% em 2018 e 1,9% em 2019.
A expectativa de crescimento da América Central é de 2,8% em 2018 e 3,2% em 2019, no Caribe de 3,7% em 2018 e 3,5% em 2019 e no México de 2,3% em ambos os anos.
No relatório, o Banco Mundial cita ainda que fatores externos continuam relativamente favoráveis à região, como o crescimento robusto nos Estados Unidos, o ainda forte crescimento da China (apesar da desaceleração), e a recuperação no preço das commodities [produtos primários com cotação internacional].
Ainda assim, diz o relatório, os desafios persistem, como a normalização da política monetária nos Estados Unidos, onde taxas de juros mais altas contribuem para uma queda drástica no fluxo de entrada de capital na região.
O Banco Mundial destaca ainda o fortalecimento do dólar e tensões comerciais.
Além disso, acrescenta que a América Latina e o Caribe estão extremamente expostos e vulneráveis a diversos desastres naturais – terremotos e enchentes que podem afetar áreas extensas e furações que têm devastado os países caribenhos.
Segundo a instituição, em termos de perdas humanas e danos econômicos, a região está entre as mais vulneráveis do planeta em razão da alta densidade populacional nas áreas atingidas por esses desastres e da necessidade de um melhor gerenciamento de riscos.
“Agora que a região está crescendo novamente, é hora de se preparar melhor contra riscos e construir resiliência a choques, para que os países não percam em um dia o que levaram anos para conquistar”, alerta Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, em nota.
“Não temos como escapar do fato de que nós vivemos em um mundo com muitos riscos, mas a boa notícia é que agora entendemos melhor esses riscos e temos ferramentas para controlá-los com mais sucesso do que no passado”, analisa.
Um exemplo é o chamado “Bônus Catastrófico da Aliança do Pacífico”, criado contra catástrofes como terremotos, algo que seria inconcebível há pouco tempo.
Além disso, o compartilhamento de riscos entre países por meio de dispositivos como o Mecanismo de Seguros contra Riscos de Catástrofes no Caribe (CCRIF, na sigla em inglês) pode fornecer fundos com disponibilidade imediata para a recuperação do país afetado por furacões.
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