A transferência de empréstimos de um banco para outro – a chamada portabilidade de crédito – continua em expansão. O volume de recursos movimentados por pessoa física cresceu 70% no primeiro semestre deste ano na comparação com igual período do ano passado, segundo dados do Banco Central (BC).
De janeiro a julho do ano passado, foram negociados R$ 8,8 bilhões. Neste ano, o montante ultrapassa R$ 15 bilhões. Esse tipo de transação financeira, definido em 2006 em uma resolução do Banco Central, permite ao consumidor transferir, sem custos, a dívida de um banco para outro em busca de melhores taxas para a quitação do empréstimo.
Um exemplo é o do engenheiro civil Rodrigo Veloso, que adquiriu um crédito imobiliário em 2016 para terminar a casa que construía em Santana de Parnaíba, região metropolitana de São Paulo. “Peguei o crédito em um momento de custo alto, mais ou menos 12%, e quando a casa ficou pronta comecei a buscar alternativas de financiamento mais baratas”, disse o engenheiro.
Ao mudar de banco, neste ano, Veloso conseguiu reduzir a parcela do financiamento em torno de 20%. “Deu uma aliviada no orçamento familiar, no mês a mês”, afirmou Veloso, ressaltanto que o custo efetivo total por ano ficou em torno de 10%.
Na modalidade de financiamento imobiliário, o aumento no volume das transações foi cerca de 20% no segundo trimestre deste ano na comparação com o trimestre anterior. Segundo informações da Plataforma Melhor Taxa, baseadas em dados do Banco Central, foram movimentados R$ 1,827 bilhão. A plataforma funciona como um facilitador de acesso às tarifas entre os bancos e os mutuários.
Para o fundador da fintech (empresa do setor financeiro que faz uso de novas tecnologias), Rafael Sasso, a redução da taxa de juros mais recente explica a maior procura pela portabilidade. “Além disso, há mais informação sobre isso, as pessoas começam a falar mais.”
Na última sexta-feira (24), a Caixa Econômica Federal, que tem participação de 69,3% no mercado de crédito imobiliário, reduziu novamente as tarifas desse tipo de financiamento. As taxas mínimas passaram de 9% ao ano para 8,75% ao ano, no caso de imóveis dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e de 10% ao ano para 9,5% ao ano, para imóveis enquadrados no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).
A Caixa também alterou o limite de cota de financiamento de imóveis usados de 70% para 80%. A última redução tinha sido em abril e, antes dela, em 2016.
A Melhor Taxa, que é remunerada pelos bancos e não tem custo para os consumidores, simula as opções de portabilidade a partir das ofertas de taxas feitas pelos bancos. Em uma das simulações enviadas à Agência Brasil, o cenário é de uma pessoa de 32 anos, com um imóvel de R$ 800 mil, com financiamento de R$ 500 mil, em 2016, e prazo de 30 anos. No momento de concessão do crédito, os juros eram de 11,24%, e agora um banco ofertou uma taxa de 8,9%. A economia chegaria a mais de R$ 160 mil.
Sasso alerta, no entanto, que é importante observar o custo efetivo total, que inclui outras taxas cobradas pelo banco. Nesse caso, o percentual passaria de 11,95% para 9,61%.
Ao optar pela portabilidade, Sasso destaca que, além do custo efetivo total, é necessário considerar os custos adicionais do processo, como avaliação do imóvel e valor da transferência de alienação junto ao cartório de registro de imóveis. Para iniciar a negociação, o banco no qual está a dívida de origem deve fornecer ao cliente interessado informações como saldo devedor, número de parcelas a vencer e taxa de juros, entre outras. No caso de pessoas físicas, o valor e o prazo da nova operação não podem ser superiores ao valor do saldo devedor e ao prazo remanescente da operação original a ser liquidada.
No site do Banco Central, há perguntas e respostas sobre as obrigações das instituições financeiras relacionadas à portabilidade de crédito. No ano passado, esse tema foi o que mais recebeu reclamações no Banco Central. O Sistema de Registro de Demandas do Cidadão recebeu cerca 500 mil manifestações, das quais 61% eram reclamações, divididas entre as que são reguladas pelo BC e as não reguladas. Entre as que têm regulação do órgão central, a portabilidade de crédito teve 50 mil ocorrências, um total de 27%.
Para o presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Amary, as dificuldades estão relacionadas ao fato de ser um serviço novo.
“Em breve vai se tornar um pouco mais rápido, mais ágil, mais simples, e essa burocracia tende a diminuir”, afirmou Amary. Para o setor imobiliário, ele considera que não tem tanto impacto a maior busca pela portabilidade, mas acredita ser positivo que os compradores tenham essa opção em mente na hora de fechar um financiamento. “Sempre existe a possibilidade futura de as pessoas poderem optar pela mudança.”
Informações da Agência Brasil
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