As sucessivas altas do dólar podem impactar nos preços de insumos importados e na geração de emprego, mas os preços nos supermercados devem ser afetados de forma leve, segundo avaliação de economistas. Hoje (18), a moeda norte-americana fechou valendo R$ 3,74, com um aumento de 1,04% em relação ao dia anterior. A alta acumulada da semana ficou em 3,85%.
O economista Jackson De Toni, que é gerente de Planejamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), diz que a alta do dólar deve impactar em todas as commodities internacionais que estão vinculadas à moeda americana. “Todas as áreas que dependem de importação de insumos, produtos ou manufaturados que vêm do exterior, por exemplo, os componentes básicos da indústria farmacêutica, o trigo importado, vemos também nos preços dos combustíveis”, avalia.
Segundo De Toni, a geração de empregos no futuro também pode ser afetada. “O aumento de custos que as empresas têm em relação ao dólar aumenta o preço aos consumidores e vai comprimir o lucro das empresas. Isso pode diminuir no futuro a capacidade que essas empresas têm para investir, que vem da receita que elas tiveram no passado e o que vai diminuir uma geração de empregos menor no futuro”, avalia.
Para ele, outra consequência do aumento do dólar é que as empresas brasileiras estão endividadas em dólar, principalmente as de médio e grande porte que tomaram empréstimo para aumentar oferta. “Isso afeta sua capacidade de pagamento em dólar”.
O professor de Finanças da FGV EAESP Cesar Caselani alerta que quem vai viajar ao exterior deve ficar atento com essa volatilidade muito grande no câmbio, e redobrar o cuidado com relação ao custo da viagem. “A pessoa vai ter que tomar muito cuidado para depois não ter surpresas desagradáveis na volta da viagem, especialmente se for usar o cartão de crédito, o que eu não recomendaria. Levar a moeda em espécie e já garantir uma taxa de câmbio seria melhor”, sugeriu. Ele aconselha que as empresas, especialmente as que têm qualquer tipo de dívida em dólar, devem tentar reduzir o endividamento, já que o risco que atual em relação ao câmbio é muito alto.
Para ele, a economia deve retomar lentamente nos próximos meses. “Imagino que a gente vá caminhar assim nos próximos meses, daqui a pouco temos uma Copa do Mundo, e o país tende a parar neste evento; depois nós temos essa indefinição com as eleições e isso cria um misto de desalento com expectativa. Essa espera vai minando os investimentos e até mesmo a procura de emprego”.
Já o economista da Associação Paulista de Supermercados (APAS), Thiago Berka, considera que os preços nos supermercados poderão ser impactados de forma leve pelas constantes variações cambiais do dólar apresentadas recentemente, porém não será o suficiente para aumentar o índice de inflação mensurado no setor, que deverá permanecer contido nos próximos meses. “Eventuais aumentos de preços serão sentidos em alguns grupos de produtos, já que invariavelmente há aumento nas commodities, produtos importados ou que possuam ingredientes importados em seu processo de fabricação”, ressaltou Berka.
Segundo a entidade, um possível aumento pode ocorrer de forma mais branda e especialmente no segundo semestre do ano, já que historicamente, a partir de um câmbio de dólar cotado por mais de 15 dias seguidos a mais de R$ 3,70, houve correlação leve no aumento dos preços no setor.
Um dos produtos que pode sofrer impacto é trigo, por ser importado e ter seu preço fixado em dólar, por ser uma commodity. “Como é matéria prima de massas e panificados, este grupo de alimentos costuma ser um dos principais a apresentar variações”, comentou o Berka.
Artigos de higiene e beleza e produtos de limpeza, que podem ser fabricados com componentes químicos derivados do petróleo e, portanto, importados e cotados em dólar, também podem sofrer com a alta do dólar e ter um leve repasse nas prateleiras.
Com relação às carnes, o câmbio em alta torna a exportação atrativa para a agroindústria brasileira, mas o embargo que as aves vêm sofrendo na União Europeia fez com que houvesse aumento na oferta no mercado interno de frango e derivados, resultando em redução de 14% no preço desses produtos no primeiro quadrimestre de 2018.
Nos últimos dias, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, avalia que a alta do dólar, por enquanto, não preocupa por ser um movimento de curto prazo, e que o Banco Central tem instrumentos para lidar com isso. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que a alta do dólar no Brasil é um movimento internacional de fortalecimento da moeda americana.
Informações da Agência Brasil
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