Inferno astral: papéis da BRF derretem 19%

5 de março de 2018 Por Redação

Atualizado às 18h26min

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã de hoje, a 3ª fase da Operação Carne Fraca, denominada Operação Trapaça, que tem como alvo a BRF (BRFS3). Os papéis da empresa derreteram 19% na B3 nesta segunda-feira.

A gigante do setor de alimentos vive uma sequência de notícias de impacto nas últimas: em fevereiro foi o prejuízo bilionário, depois o pedido dos Fundos Previ e Petros para tirar Abílio Diniz do Conselho da empresa.

Entre os presos, estão o ex-presidente da BRF, Pedro de Andrade Faria, e o vice-presidente de Operações Globais da empresa, Hélio Rubens Mendes dos Santos.

A BRF é uma das maiores empresas de alimento do mundo, dona de marcas como Sadia, Perdigão e Qualy.

O grupo é investigado por fraudar resultados de análises laboratoriais relacionados à contaminação pela bactérias Salmonella pullorum. As fraudes foram constatadas entre 2012 e 2015. Onze pessoas tiveram mandado de prisão decretado.

Segundo o delegado da PF, Maurício Boscardi Grillo, as planilhas e laudos técnicos eram modificados e os resultados finais adulterados eram entregues ao Serviço de Inspeção Federal (SIF), para impedir que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fiscalizasse a qualidade do processo industrial das plantas (frigrorífico ou abatedouro) da BRF. A presença e quantidade real da salmonela foram omitidas em alguns casos.

A ração oferecida ao frango antes do abate também era objeto de fraude, de acordo com o delegado. Grillo conta que muitas provas surgiram após as fases anteriores da Carne Fraca e trocas de e-mails bastante consistentes entre executivos e funcionários do controle de qualidade comprovam o esquema de fraude, que era parte da “estratégia da empresa”. “Existe um cronograma da operação que começa nas granjas dos cooperados da empresa, onde existe a contaminação. Passa-se, então, para as plantas frigoríficas e depois para a análise laboratorial”, disse Grillo.

Salmonela

Equipes do Ministério da Agricultura também estão trabalhando em conjunto com a PF. Em nota, o ministério explicou que dentre as mais de duas mil variedades de salmonela, existem duas de preocupação para a saúde animal e duas de saúde pública. Por isso, as empresas devem adotar medidas específicas dentro das granjas e nos produtos positivos para a bactéria, para reduzir os riscos ao consumidor.

Segundo o coordenador-geral de Inspeção do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa, Alexandre Campos da Silva, neste caso da operação, o risco à saúde pública não está “devidamente configurado”, pois a salmonela, por si só, não caracteriza risco à saúde pública, pois depende da forma do consumo.

De acordo com o ministério, a presença da bactéria é comum, pois faz parte da flora intestinal das aves. No entanto, quando utilizados os procedimentos adequados de preparo e de consumo, minimizam-se os riscos, uma vez que ela é destruída em altas temperaturas.

O Mapa informou ainda que a fiscalização do ministério já havia identificado irregularidades nos procedimentos de certificação sanitária em algumas unidades frigoríficas. Por isso, as unidades foram proibidas de exportar a países que exigem requisitos sanitários específicos de controle e tipificação da salmonela.

Três empresas estão sendo fiscalizadas pelo Mapa em parceria com a PF em busca de provas. Outras sete já foram investigadas.

Operação Trapaça

De acordo com a PF, as investigações apontaram que três laboratórios credenciados ao Mapa e dois de controle da empresa fraudavam os resultados de exames das amostras. A prática das fraudes contava com a anuência de executivos da BRF, bem como de seu corpo técnico, além de profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa.

Também foram constatadas manobras extrajudiciais, operadas pelos executivos do grupo, para acobertar as práticas ilegais durante as investigações.

Estão sendo cumpridas 91 ordens judiciais no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo. São 11 mandados de prisão temporária, 27 de condução coercitiva e 53 de busca e apreensão. Os investigados poderão responder, dentre outros, pelos crimes de falsidade documental, estelionato qualificado e formação de quadrilha, além de crimes contra a saúde pública.

Os presos temporários serão levados à Superintendência da PF em Curitiba.

O que diz a BRF

A BRF emitiu um comunicado ao mercado na tarde desta segunda-feira. Leia a íntegra:

“A BRF comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, em relação à operação da Polícia Federal deflagrada nesta manhã, está se inteirando dos detalhes da referida operação e que está colaborando com as investigações para esclarecimento dos fatos. A Companhia segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos, e há mais de 80 anos a BRF demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, os quais estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo. A Companhia reitera que permanece inteiramente à disposição das autoridades, mantendo total transparência na interlocução com seus clientes, consumidores, acionistas e o mercado em geral”.

Com Agência Brasil e Finance News

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