Eleições e a economia
Uma das questões que analistas, investidores e especuladores mais têm avaliado recentemente é como o investimento estrangeiro no Brasil vai se comportar em ano eleitoral e qual o impacto disso na renda variável.
Para contribuir para essa análise, o Finance News entrevistou o economista britânico Adam Patterson.
Ele é diretor da Legacy Partners M&A e Financial Advisory, companhia com sede em Curitiba.
Adam tem pós-graduação em Economia pela Universidade de Londres, especialização em Investimentos pelo Instituto Real e MBA em Finanças pela Universidade Federal do Paraná.
1.O investidor estrangeiro foi fundamental na forte alta do Ibovespa no começo do ano. Essa tendência vai continuar?
Adam Patterson – O saldo do investidor estrangeiro em ações brasileiras atingiu um novo recorde em 2017, batendo a marca de R$ 14,6 bilhões de reais, tendo saldo positivo pelo sexto ano consecutivo. O Investimento Estrangeiro foi responsável por 50% do investimento na Bolsa neste ano, comparado com apenas 30% em 2010.
A tendência macro deve continuar sendo liderada pelo continuado bom humor nas Bolsas externas, liquidez global ampla e otimismo nos mercados emergentes, bem como a aposta que o Brasil já está no caminho de recuperação econômica.
No entanto, o investimento estrangeiro, especialmente especulativo, começou a recuar no início do ano, com saldos líquidos negativos em fevereiro e até o meio do março. Isso pode sinalizar uma nova fase para o Ibovepa de “wait and see” para investimento estrangeiro no curto prazo.
2.O investidor estrangeiro que aplica em renda variável está mais preocupado com juros americanos ou com as eleições no Brasil?
Adam Patterson – O aumento nas taxas de juros americanos é uma tendência importante, mas potencialmente já está sendo precificado no mercado. No entanto, a eleição de um candidato “Cisne Negro” e, ainda mais importante, uma política econômica prejudicial pós-eleição pode ter um resultado binário em investimento estrangeiro. O mercado internacional já está atento com a precipitação das disputas políticas. Como sempre, os fatores fundamentais – retornos (ou seja, crescimento econômico e de earnings) bem como o risco (prêmio Brasil) devem guiar o cenário macro e, portanto, o investimento estrangeiro.
3.Com relação ao investimento estrangeiro direto, qual a tendência no curto prazo? Esse tipo de investidor vai esperar a eleição para depois decidir se aloca recursos no Brasil?
Adam Patterson – Para esclarecer: por definição, um investimento – e não uma especulação financeira – é sempre de médio ou de longo prazo. As eleições podem, claro, aumentar a incerteza, timing e decisão final da alocação de tais recursos. O cenário político continua nublado e junto com a falta de definições em questões econômicas importantes não resolvidas pode aumentar a cautela do investidor global até as eleições.
Em função dos desafios políticos e financeiros do Brasil nos últimos anos, o investimento estrangeiro estagnou e está aguardando maior visibilidade macroeconômica para retomar o modo “risk on” (busca por risco) para decisões de investimento e capital budgeting (processo de alocação de recursos).
4.Como o investidor estrangeiro vê as eleições presidenciais no Brasil neste momento em que vários aspirantes ao Planalto já se lançaram pré-candidatos?
Adam Patterson – Comum certo nível de cautela, devido à grande quantidade de pré-candidatos e a pluralidade de plataformas apresentadas, o mercado segura o “animal spirit” até ter mais ciência de quem serão os principais players.
A expectativa internacional é para um candidato relativamente reformista para ganhar as eleições. O grande ponto é que a preocupação é não somente relacionada ao candidato em si, mas sim o caminho futuro macroeconômico e a agenda de reforma. Vale lembrar a frase: “it´s the economy, stupid” (em tradução livre: ‘É a economia, idiota’, expressão usada por James Carville estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton nos ano 90).
5.Quais pré-candidatos mais ‘assustam’ o investidor de fora do Brasil?
Adam Patterson – Como na maioria de eleições do mundo, candidatos com histórico de posicionamentos políticos contra o mercado financeiro e globalização e falas em protecionismo, subsídios e aumento da base monetária podem assustar os investidores estrangeiros.
6.Quais setores de nossa economia (infraestrutura, energia, tecnologia, etc) em sua opinião, que o investidor estrangeiro com perfil de longo prazo está de olho para investir?
Adam Patterson – No Brasil, é muito provável que as notícias econômicas positivas direcionem o mercado de fusões e aquisições para longe das vendas de ativos predominantemente escandalizados e de distressed, para a retomada da confiança dos investidores estrangeiros, além de uma rentabilidade mais segura.
Prevê-se que os setores de saúde, tecnologia e finanças liderem o crescimento dos anúncios de fusões e aquisições na América Latina no primeiro semestre de 2018. No Brasil, os setores mais quentes também incluem educação, papel e celulose e infraestrutura.
7.Temos visto franceses e chineses fazendo aquisições importantes no Brasil. De quais países mais devem vir investimentos para o Brasil em 2018 e 2019?
Adam Patterson – Devido à crise econômica brasileira, em 2014 o investimento direto estrangeiro (IED) caiu 22,9%, de US $ 96,9 bilhões para US$ 74,7 bilhões em 2015. O IED no Brasil tem média mensal de investimentos de US$ 3,7 bilhões de dólares desde 1995 e para os próximos anos é projetado segue em ascendência, contando com os Estados Unidos, a França e o Reino Unido como seus principais apoiadores historicamente.
De fato, nos últimos anos, o UK (Reino Unido) tem sido o terceiro maior parceiro do IED e acredito que essa tendência se mantenha, uma vez que as relações entre os dois países continuam a se fortalecer. Importante ressaltar que a China também está cada vez mais de olho no dealflow (fluxo de negócios) no país.