A imprensa que cobre a área de finanças, frequentemente, entrevista os chamados gurus do mercado para falar de análise de fundamentos de empresas da Bolsa. São sempre os mesmos, com as mesmas respostas.
O Finance News resolveu fazer diferente: entrevistar pessoas anônimas mas com larga experiência no mercado. Gente que, embora não seja famosa, têm muito a contribuir com aqueles que estão em busca de conhecimento para aplicar em ações com bons fundamentos.
Na entrevista abaixo vamos conversar com o auxiliar de escritório que se tornou um bem sucedido consultor financeiro. Seu nome é João Manoel Paz Gusman.
Formado em Ciências Contábeis e com várias especializações no mercado financeiro, sua história com a Bolsa de Valores começou ainda nos anos 80.
Com o olhar aguçado de quem conhece a fundo o assunto sobre o qual está falando, afirma de forma taxativa: “um investidor de sucesso tem que primeiro conhecer os detalhes e formas de investimento para não ficar dependente de ninguém”.
Se você não domina alguns dos termos técnicos abordados, fizemos um resumo ao final da entrevista para facilitar o entendimento.
Ressaltamos que o assunto é complexo e extenso e o objetivo aqui é mostrar o método de investimento de um investidor, que necessariamente, pode não ser uma metodologia igual a sua, caro leitor.
Comecei em porto Alegre como auxiliar de escritório, depois passei no concurso no Banco do Brasil. Tive diversas atividade até começar a pesquisar sobre o mercado de ações. No início de 1998 sai do Banco do Brasil para me dedicar ao mercado financeiro. Trabalhei para diversas corretoras como agente autônomo de investimentos, passei a dar aula em MBA em universidades e hoje atuo como consultor financeiro.
Sou formado em Ciências Contábeis e com algumas especializações no mercado financeiro e de capitais. Fiz muitos cursos e a prática na busca por informações foi meu guia. Atuei muito na área do mercado acionário, mas também nos mercados de futuro, tanto Bovespa como na CBOT até 2011.
Trabalhei para o Banco do Brasil de 1982 a 1998. Saí e fui trabalhar como agente autônomo para a corretora Orbival, depois para Unibanco/Investshop. Montamos um escritório na cidade de Passo Fundo. Na época recebi a visita de Guilherme Benchimol , Marcelo Maisonave e Carlos Corá sócio da Corretora Diferencial, dali surgiria a XP Investimentos.
Surgiu da necessidade de conhecer melhor as empresas, minha formação contábil me levou a buscar dados confiáveis para avaliar investimentos. Investir em ações é o mesmo critério que utilizo para comprar uma empresa qualquer no mercado, mesmo com capital fechado.
Primeiro estudar e conhecer o mercado. Informação é a alma de um negócio bem sucedido. Um investidor de sucesso tem que primeiro conhecer os detalhes e formas de investimento para não ficar dependente de ninguém. Até porque o mercado não remunera os profissionais pelo crescimento patrimonial dos investidores e sim pela corretagem gerada pelos negócios.
Primeira coisa que vejo é o lucro líquido, depois o preço/lucro, para ser simplista. Depois vejo a evolução de no mínimo 5 anos do lucro. Tendência é muito importante: uma empresa que tem lucro e vem reduzindo esse lucro a cada período é preocupante. Uma empresa que vem de prejuízo e a cada período vem reduzindo e passando para o lucro, em determinada situação é melhor investir na segunda empresa. A tendência é o segredo do sucesso do investimento.
Grau de endividamento, e sempre acompanhando a tendência. Empresa que vem reduzindo graus de endividamento com lucros constantes é muito importante. Agora empresa com endividamento alto e lucro pequeno ou prejuízo, aí investir é risco. A não ser que a empresa esteja num setor que começa a ser a bola da vez.
O ideal é, no mínimo, 5 anos e sempre analisando as regularidades de cada trimestre dentro de cada ano.
Sempre para meu critério de avaliação considero muito mais importante o endividamento liquido pelo patrimônio líquido, mas nunca deixando de considerar a evolução no nível de rentabilidade (ROE na sigla em inglês).
Empresa que apresenta lucro líquido constante e de preferência crescente.
Este é um investimento de risco. Esta empresa deverá estar inserida num mercado inovador ou próspero. A recuperação terá que ter base concreta de mercado, senão é tiro no escuro.
Alguns dos principais indicadores fundamentalistas e seus significados
Indicador Preço / Lucro
A rigor, pode ser entendido como o número de anos que se leva para se reaver o capital aplicado através dos lucros da empresa.
O indicador P/L, um dos mais conhecidos, nada mais é do que o preço atual da ação, dividido pelo lucro por ação. Esse múltiplo permite identificar se a ação está “cara” ou “barata“.
Quanto menor o P/L de uma empresa, mais atrativas estão suas ações. E por outro lado, quanto maior o P/L, mais cara estão as ações. Entre 6 e 7 é um nível considerado ideal por muitos especialistas.
Cuidados ao utilizar este indicador:
Embora o P/L seja muito eficiente para comparar empresas do mesmo setor, não funciona bem para comparar empresas de setores diferentes.
É aconselhável o investidor verificar se houve alguma anormalidade no lucro do último ano, bem como a expectativa de lucro para o próximo exercício, a fim de definir se a relação entre os dois indicadores – preço e lucro – vai se manter ou não.
Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (ROE)
Return on Equity (ROE) mostra a porcentagem de retorno que a empresa está dando sobre o capital (Patrimônio Líquido) de seus acionistas. O ROE é o Lucro Líquido dividido pelo Patrimônio Líquido.
Este indicador é muito útil para medir a lucratividade de diferentes companhias no mesmo setor.
É comum encontrar um ROE alto para companhias em crescimento, enquanto que companhias mais estáveis têm um ROE menor.
É um indicador claro de como a empresa está remunerando seus acionistas.
Atenção:
Uma empresa que teve prejuízo, e portanto, terá um ROE negativo, não necessariamente deixou de gerar caixa positivo, o que é um bom sinal.
Valor Patrimonial da Ação (VPA)
Representa o valor intrínseco da ação.
O VPA é p Patrimônio Líquido dividido pela Quantidade de Ações
Se as ações são negociadas acima de seu VPA, significa que o mercado tem boas expectativas em relação à empresa e, por isso, os investidores aceitam pagar mais do que a ação teoricamente valeria.
Do contrário, significa que o mercado tem expectativas negativas em relação à empresa ou a seu setor.
Atenção: ações negociadas a cotações muito acima de seu VPA podem indicar euforia com o papel.
Preço por Valor Patrimonial da Ação (P/VPA)
Indica a relação entre o preço da ação (sua cotação no mercado) e seu valor patrimonial.
Se o resultado for acima de 1, significa que a ação está sobreavaliada pelo mercado. Abaixo de 1, indica que está subavaliada.
Liquidez Corrente
O índice de Liquidez Corrente mede a capacidade de pagamento de dívidas de curto prazo. Ele é calculado dividindo-se o Ativo Circulante pelo Passivo Circulante.
Em geral, se estiver acima de 1 significa que a empresa tem dinheiro em caixa para saldar suas dívidas.
Fluxo de Caixa Livre – FCL
O fluxo de caixa livre é o montante disponível apurado levando-se em conta os investimentos e as necessidades de capital de giro. Devem ser contabilizadas ainda as despesas que não implicam necessariamente saídas de caixa, como é o caso da amortização, por exemplo.
É importante considerar que o fluxo de caixa livre, a longo prazo, deve ser sempre positivo, uma vez que o contrário implicaria em dizer que a empresa não gera recursos suficientes para arcar com os compromissos assumidos com financiadores.
De modo geral, um FCL positivo é um bom sinal, do mesmo modo que um negativo é um ponto de alerta.
Cuidados ao utilizar este indicador:
Apesar de mostrar que a empresa está gerando caixa, ele não permite a comparação direta entre empresas.
Importante:
Esse portal não faz qualquer tipo de recomendação de investimento e não se responsabiliza por perdas, danos diretos ou indiretos e lucros cessantes resultantes de decisões tomadas a partir de seu conteúdo, gráficos, tabelas ou vídeos.
Procure sempre um profissional certificado por entidade reguladora para obter recomendações, análises ou consultoria sobre investimentos financeiros. Para mais detalhes acesse o site da Comissão de Valores Mobiliários: www.cvm.gov.br
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